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O dia anterior, o dia seguinte, o quase. Ficar a um passo, ter (ou não) sido por pouco, deixar escapar por entre os dedos. O que é, afinal, a hora certa e o local certo? E o momento perfeito? Não passa tudo, então, de um golpe de sorte? Talvez. Será o livre-arbítrio uma fantasia? Viveremos controlados por algum tipo de karma? Há dias em que sinto que nada sei (filósofos de outros tempos [dis]concordaram… risos) e, inevitavelmente, lembro-me da frase do escritor Haruki Murakami: “Passa-se o mesmo com as ementas, os homens ou outra coisa qualquer: «pensamos» que estamos a fazer uma escolha, mas, de facto, podemos não estar a escolher nada. Tudo pode já estar escolhido de antemão e nós «fingimos» que fazemos escolhas. O livre-arbítrio pode não passar de uma ilusão.”

O que é facto é que quanto mais nos responsabilizamos pelas coisas, mais parece que fogem do nosso controlo. Assumir que se quer mudar, lutar por isso e não ver resultados. É caso para dizer: “Fogo!” (Repetiu, recentemente, o meu sobrinho vezes sem conta, depois de me ouvir dizer – e todo o caráter sério e aborrecido que a palavra pudesse ter se transformou numa gargalhada). Sim, há quem diga que, quando desligamos de um assunto, normalmente as respostas que procuramos vêm aos nosso encontro, ou é quando deixamos de nos importar que as pessoas sentem a nossa falta. Há um fundo de verdade nisto tudo, mas a passividade será mesmo uma qualidade? Voltamos ao poder do livre-arbítrio: tem o que lhe quisermos dar, parece-me. Palavras como, por exemplo, ‘revolução’ e ‘independência’ não podem ser só associadas a datas, assusta-me um pouco a sua vulnerabilidade, mau uso e esquecimento. E a liberdade? Não será uma conquista diária, afinal?

Equacionar, não ter certezas, colocar em perspetiva é um treino mental desafiante, embora não seja sempre pacífico. Sair da zona de conforto nunca é. Sorte ou karma? Luta ou escolhas? Direciono-me pela segunda opção, que é pelo menos mais objetiva. E quando as dificuldades não amenizam e a esperança fica abalada, lembro-me do conselho de um ou outro desconhecido: “não desista!”