Fala-se muito “dele” nem sempre com a seriedade e respeito merecidos, se é que consegue sobreviver a tanta racionalidade e leviandade, em simultâneo. Associa-se-lhe liberdade e, ao mesmo tempo, entrega, mas será que “ele” ambiciona o meio termo e o equilíbrio? Ou sucumbe à tentação dos extremos e das expetativas elevadas?
Encontro-o tantas vezes perdido em olhares vagos e sem brilho, sofridos, que parecem sombras de sonhos que caíram por terra, presos em abismos de difícil acesso, em vidas interrompidas… É fácil identificar quando a sensação nos é familiar, semelhante à de um vazio sem limites, preenchido por rotinas incontornáveis, muitas regras e comportamentos sociais impostos, e até esboços de sorrisos, ainda que tudo pareça desmoronar por dentro.
A sociedade é cruel com quem não aparenta felicidade constante, esteja ele por perto ou não. Interessa e traz mais vantagens fingir. Ninguém tem paciência para o desânimo alheio e os conselhos são os mastigados pela opinião corrente, pouco importa a singularidade de quem não se encaixa nos parâmetros do que parece ser um exército de infelizes programados para a resposta: “vai-se andando”.
E perante tamanha frieza, observo-o a definhar, cada vez menos valorizado, confundido com atos descartáveis, manipulado por todo o tipo de interesses.
Falta-me, muitas vezes, a coragem para acreditar nele, mas depois olho para dentro de mim e… sinto-o no pulsar de cada batida. E lembro-me de quando ele me saltava do peito, me fazia acordar ou adormecer com um sorriso estúpido no rosto, das gargalhadas tontas e eufóricas que me provocava, da esperança imensa em dias melhores e realmente felizes, ah… e da vontade esfuziante e arrebatadora de dançar, de pensar que tudo era possível… que bem podia ser para sempre. Mas não… “ele” (que nem me atrevo a pronunciar o nome) não ficou por perto. Não sei se volta ou se era mesmo o tal. Só sei que se fala demais e se sente de menos.